Eu era apenas um companheiro e eles me mandaram fazer um relatório de herança. Como o local onde eu tinha que fazer o relatório era bem distante do Ministério, eles me disseram que iam me atribuir um carro. Achei que teria que dirigir, mas não, eu tinha motorista e tudo. Me senti uma celebridade. O caso é que quando cheguei ao destino vi que a estrada protegida estava parcialmente invadida por um terreno agrícola.
Como era a minha primeira grande reportagem tentei seguir ao pé da letra o que tinha aprendido, sobretudo em relação ao património cultural. Então escrevi um relatório com cabelos e placas sobre como um caminho protegido estava sendo violado pelo fato de fazer parte do Caminho de Santiago. Mas parece que nem meus patrões nem os donos da trama gostaram muito do meu relatório. Eu entendi o último, mas não o primeiro.
E é que as coisas no palácio vão devagar e um simples estagiário não entende essas coisas. Então me contrataram para acompanhar as obras que estavam sendo feitas no terreno, inclusive a Sondagens para captação de água. Descobri que o terreno pertencia a uma grande empresa na área com muito terreno. E que precisava de água para poder irrigar boa parte de sua terra. Até então não havia problema, apenas aquela parte da instalação e as obras se estendiam a terrenos de propriedade do município e, além disso, protegidos.
No meu segundo relatório fui um pouco menos franco. Ele havia lido nas entrelinhas que o conselho não queria se dar mal com aquela companhia e que esperavam se entender sem ter que trazer a artilharia pesada pelo estrito cumprimento da lei. Ao final, a empresa modificou suas perfurações de captação de água para liberar mais espaço que não lhe pertencia. E embora ainda estivesse um pouco dentro da estrada, eles prometeram consertá-lo em mais algumas semanas assim que o trabalho estivesse concluído. E eles fazem assim. Para outra ocasião, teria que ler nas entrelinhas antes de fazer os relatórios.